sexta-feira, 17 de março de 2017

A DIVERSÃO DOS INCLAMES


O que nos reserva o futuro: como se divertirão nossos filhotes inclames

Por Sebastião Nunes

Continuando minha análise do futuro controlado pelos inclames, eis uma pequena amostra de uma festança entre eles, talvez num clube particular e exclusivo, quem sabe num condomínio fechado. Se não for assim, será quase assim.
O PRAZER DE CHURRASQUEAR
Grupo numeroso de inclames, funcionários de multinacional, costumava reunir-se semanalmente em animadíssimo churrasco. Levavam família toda: consortes e sogros e filhos e pais e avós. Bisavós e cunhados e concunhados e genros. E noras e carros e gatos e cachorros.
As carnes do famoso churrasco eram sorteadas na hora, entre os participantes.
As picanhas (sempre em número de quatro) eram extraídas da bunda de duas das buclames-sogras.
As maminhas, dos peitos de quatro das buclames-avós.
As asinhas de frango constituíam-se de dedos de quinze ninclames (sic) menores de doze anos.
As linguiças eram fornecidas por três dúzias de chaclames (sic) também menores de doze anos.
Os corações eram de buclames-mães, quatro por sessão, picadinhos no formato dos de frango.
Os lombos (temperados com orégano e sal) sempre se retiravam de penclames (sic), também em número de quatro.
Como os inclames eram muitos, e levando-se em conta que das buclames-mães doadoras de corações nada mais se poderia esperar, eram elas lavadas, raspados os pelos (como os brasilianos primevos cumpriam com francos e portugas em seus banquetes), e então assadas por inteiro, as amplas gorduras chiando e cheirando, sob aplausos e vivas generais.
Os doadores de carnes eram depois da bela festança indenizados regiamente, ficando doravante dispensados de novas doações. Seria sem dúvida excessivo – você não concorda? – que a uma buclame-avó despeitada ou a uma buclame-sogra desbundada se exigisse mais.
Quanto ao que sobrava das buclames-mães assadas, ou seja: ossos e algumas vísceras menos nobres, era enterrado com pompa e glória, cobertos os caixões com as bandeiras nacional, estadual e municipal, além das costumeiras coroas multiflores, onde se liam as costumeiras frases-florais: “Saudades eternas de Fulano e Beltrano”, “Paz na eternidade, querida”, “Nunca te esqueceremos, mamãe”, e, sem dúvida, “Sua lacuna será irreparável, inesquecível Sicrana”, esta última oferecida pelos exultantes colegas de trabalho.
Durante os festejos bebia-se cerveja, refrigerante e até um pouco de cachaça curtida em frutas. O barulho que amaciava as carnes vinha de rádios FM da moda, com seus incansáveis tagarelas taramelando besteiras aos berros e seus músicos de merda fazendo média.
De vez em quando, para variar um pouco, convidavam um ou dois graúdos generentes e subgenerentes com seus familiares, aceitando eles – com o maior entusiasmo – as regras generais. Enfim, a festa era mais que ótima e todos se divertiam mais que muito.
Em um dos churrascos mais frequentados (além dos contumazes comilões havia seis subsubgenerês, quatro subgenerês, dois generês e um vice-presi-nacional, que aliás forneceram deliciosos e suculentos chouriços, disputados com entusiasmo pelas buclames mais lampeiras), acontece que sobrou uma das maminhas.
Fato raríssimo, vale salientar, sucedeu contudo porque o Contador-Pesador-Mor (CPM), que contava as bocas e dividia-as por X, encontrando então o total de mamas necessárias, distraiu-se com uma das maminhas, tenra, firme e suave aos dedos.
Embora a amável fornecenda ao final houvesse proposto doá-la a uma boa instituição de caridade, tipo a dos deputados e senadores aposentados, a dos velhos empresários sentimentais, a dos juristas desvairados ou até mesmo, em último caso, a dos recém-nados órfãos, pareceu por bem ao Conselho General dos Churrascos Inclâmicos (CGCI) devolvê-la à sua legítima possuidora, uma relativamente jovem e até que bem apanhada buclame-avó.
Assim foi feito e, com espinhos de roseira, ora-pro-nóbis e laranjeira, voltou a maminha a seu antigo e morno ninho.
Apenas quem não gostou do retorno foi o mal-agradecido penclame-maridão da dita buclame-avó, que sempre se esquecia dos inesperados (para ele) prendedores e espetava os dedos nos momentos mais – como dizer? – mais empolgantes de suas cada vez mais raras incursões (ou excursões?) mamárias.

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Os diversos (sic) remetem a conceitos basilares em nossa terminologia, devendo ser explicitados futuramente.  -  (Fonte: aqui).

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