quarta-feira, 7 de março de 2018

SWUSH, A CIDADE REBELDE, E O PRÓXIMO CARNAVAL


Swush

Por Luís Fernando Veríssimo

Estamos no século 14. A Peste Negra assola a Europa. Uma cidade sitiada resiste ao cerco de forças inimigas, repele todos os ataques lançados contra as suas muralhas e recusa-se a capitular. O comandante das forças sitiantes tem uma ideia. Manda as catapultas lançarem cadáveres dos que morreram da peste por sobre as muralhas da cidade sitiada, para infectar sua população.

E lá vão os cadáveres pesteados.

Swush, swush, swush.

Não dá certo.

- General, os habitantes da cidade estão fugindo dos corpos pesteados.

O comandante tem outra ideia.

- Comecem a catapultar pesteados ainda vivos. Assim eles podem correr atrás dos que fogem.

- Sim senhor.

E lá vão os pesteados vivos.

Swush, swush, swush.

Não dá certo.

- General, os pesteados vivos, debilitados, não conseguem alcançar os que fogem.

O comandante tem outra ideia.

- Preparem os intrigantes.

Uma salva de intrigantes é disparada pelas catapultas sobre a cidade, com o objetivo de espalhar boatos infundados e semear a discórdia entre os defensores.

Swush, swush, swush.

Não dá certo. A resolução dos sitiados continua firme, apesar de as intrigas causarem algumas brigas familiares.

- Mandem os sofistas!

Lá vão os sofistas por cima dos muros, para começar discussões filosóficas sobre a futilidade de resistir, e da existência humana em geral.

Swush, swush, swush.

Não dá certo. A população da cidade parece não ligar muito para filosofia. A resistência continua.

- Disparar economistas!

Com suas análises e recomendações, em pouco tempo os economistas criarão tamanha confusão na economia da cidade que enfraquecerão sua defesa.

Swush, swush, swush.

Também não dá certo. O comandante se dá conta do seu erro.

Ordena:

- Disparem economistas de escolas diferentes!

Swush, swush, swush, swush, swush, swush, swush.

Como nenhum consenso é possível entre os economistas de escolas diferentes, a confusão que causarão será ainda maior e obrigará a cidade a se render para evitar o caos, ou apenas para fugir da discussão entre eles.

Mas também não dá certo.

Nada do que foi catapultado por sobre os muros da cidade dá certo.

Tudo foi absorvido pelos seus habitantes, até a Peste Negra, e não há indícios de desânimo ou rendição. Pelo contrário. Começa-se a ouvir os sons inconfundíveis de um ensaio para o carnaval vindo de dentro das muralhas. Aparece um habitante da cidade acenando uma bandeira branca, mas não é um sinal de capitulação. É para fazer um pedido:

- Atirem alguém que toque agogô!  -  (Aqui).

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